domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Tudo fica bem no fim"

I.

Interessante como a sensação do coração acelerado transfere tamanho prazer à mente humana, refletido também em sensações físicas. Mais estranho é pensar no temor que sentimos quando estamos prestes a nos render a esse sentimento, como se sempre nos esquecêssemos de quanta falta isto faz para nossa pífia existência.


A estabilidade psíquica de uma pessoa serena, centrada, com seus pés bem firmes no chão é certamente um estado de espírito buscado por muitos, mas nem de longe se compara ao prazer da imprevisibilidade dos fatos, de estar totalmente perdido e entregue a alguma causa, algum sentimento ou, na “pior” das hipóteses, a alguém. Humanos, que confirmam e reafirmam a fama de imperfeitos dia-a-dia, insanamente debilitados e sujeitos ao controle de outro ser, um exato semelhante. É o tipo de situação que talvez devesse ser no mínimo angustiante.



II.


Abro os olhos de manhã
E procuro te manter perto de mim...

Acredito nessa sua fé pagã

De que tudo fica bem no fim.


Cegos, surdos, impotentes perante algo tão maior, produzido por si mesmo, mas incontrolável. E é nisso que se traduz a vida, pois sem essas tempestades emocionais seria apenas existência.



III.


Estamos todos rendidos. Alguns não percebem, outros não assumem, mas estes são indicadores contundentes do fato. Não se pode fugir de si mesmo, e tentar é tão frustrante quanto tentar superar seu reflexo no espelho. Há quem jure ter conseguido.


E há quem acredite.



IV.


O coração desacelera, volta ao estado que ousamos chamar de “normal”. Aos poucos os vestígios do que outrora o excitou se afastam, até tornarem-se um estranho ponto embaçado num passado cada vez mais distante.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vítima

Não sou do tipo que crê em destino, do tipo que teme, ou pior, que se sujeita a algo supostamente pré-determinado. Sei que não devo me queixar tanto de tudo o que me aflige, pois tenho considerável parcela de responsabilidade em boa parte disso tudo. Felizmente (?) somos seres racionais o suficiente para enxergar, analisar e solucionar tais aflições. Em tese, ao menos.

Lembro-me de quando escrevi aqui mesmo a respeito do livre arbítrio. Acho que cheguei a questioná-lo em certos pontos. Mesmo com todas as ressalvas, no entanto, é nele que se afirma o que penso neste momento, se é que preciso mesmo de afirmação, de uma justificativa pífia para tanto.

Nascemos e nos tornamos vítimas. Ao longo de uma existência, pode-se optar por alguns males, talvez por todos, talvez por nenhum, difícil é deixar de ser vítima de algum deles ou até mesmo de sua ausência.

Prefiro ser eternamente afligido por qualquer coisa, de preferência não sempre a mesma coisa, mas ter algo com o que me preocupar. Algo que eu precise sanar. Algo.

Prefiro ser vítima. E, no fundo, todo réu é uma vítima.

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Incrível como, prestes a completar dezoito anos de vida, ainda me surpreendo comigo mesmo. Eu que já ri e caçoei de muitos por se deixar levar por algo que chamo de “romantismo barato” me torno cada vez mais uma vítima disso. Talvez não seja tão barato assim, já considero bem honesto e digno, mas ando me empolgando muito com aquelas velhas baladas românticas, estampando aquele sorriso bem babaca no rosto enquanto assisto às cenas felizes de Dan e Serena em ‘Gossip Girl’ (tenso!) e coisas do tipo.

Confesso, entretanto, que ainda estou sentindo aquela velha aversão a gente apaixonada perto de mim, ando meio afetado por isso. Alguns filósofos denominam esta sensação de “dor-de-cotovelo”, e eu, embora receoso, acredito que tenham razão.


Isso é só uma introdução (bastante resumida, diga-se de passagem) de uns sussurros mentais que ouço com certa freqüência. Ainda trabalho nisso. Continuarei, digamos, “traduzindo-os” e organizando-os de forma mais concisa. Alguns certamente ainda terão espaço aqui.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Um Salve pro Zé Luiz

Pensamentos me surgem (e me atormentam) durante as atividades mais distintas, o que não deve ser extraordinário para ninguém. Na noite do último sábado eu sobrevivi ao Zorra Total aguardando o início de Super Cine pra ver o filme '24 Horas – A Redenção', baseado na famosa série protagonizada por Kiefer Sutherland no papel do agente Jack Bauer.


O filme (que não foi fabuloso como eu imaginava, consistiu em algo como um episódio comum com o dobro da duração) era sobre algo como uma (pós?) guerra civil num país africano onde Bauer se escondia da justiça americana numa escola assistida pela ONU que abrigava crianças órfãs, filhos e filhas das vítimas da violência geneneralizada. Um grupo guerrilheiro "recrutava" tais crianças para compor um exército de sangue comum, mas com a função principal de testas-de-ferro. Caos estabelecido do outro lado do atlântico, nos E.U.A. a presidente eleita (sim, uma mulher) estava em dia de assumir seu cargo na Casa Branca, já sabendo que teria em pauta dentro de algumas horas essa crise internacional.

O então presidente (quase ex) havia ordenado que as tropas americanas deixassem o país, alegando que “não devia por em risco vidas americanas numa guerra que não era sua”. A mulher prestes a assumir seu cargo discordava veementemente, dizendo que os E.U.A. deviam sim interferir com o objetivo de evitar um genocídio ainda maior do que o que estava em andamento. Num cenário claramente construído para que um seja vilão e o outro seja salvador do mundo, discutiram até o último momento numa reunião particular que tiveram pouco antes da cerimônia de posse.


E eu, apenas um rapaz latino-americano, tenho pra mim que é dessa forma que Hollywood ajuda no fortalecimento dos E.U.A. como potência econômica, militar e cultural, pois eles devem invadir o país para salvá-lo de um ditador que usa o nome de um deus, conceitos raciais ou outros argumentos para justificar suas ações extremamente agressivas. Lembra do Iraque? Alguns anos depois o próprio povo americano se dizia contra a permanência das tropas americanas em solo iraquiano.


Não quero dizer quem está certo, até porque provavelmente ninguém estará. Tenho alguns preceitos desde bem pequeno, alguns fortalecidos e moldados com um pouco de conhecimento adquirido especialmente no ano de 2009. Quero mandar um grande abraço pro Zé Luiz, tocador de pandeiro, fã de Michael Jackson e, nas horas vagas, meu professor de geografia, um cara que levava uns textos bem interessantes para serem lidos e discutidos em sala toda terça pela manhã, textos que me faziam acordar, e não digo isso apenas figurativamente. Já que citei o grande Zé Luiz, mando um salve pro pessoal que tá aí se preparando pra recuperação dele (amanhã, né?), da qual me livrei por muito pouco.

Talvez eu devesse, mas não guardo rancor de suas provas malditas, das vezes em que interrompia meu Stephen King (eu já tinha lido o texto dele e provei isso), muito menos de sua aparente antipatia.

Ainda é com certo orgulho que me recordo disso, com mais saudade do que poderia imaginar também. Foram três anos que realmente ajudaram a compor grande parte do que sou hoje.

Pois é... Bons tempos.