terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O Vassoureiro

"Em um piano distante, alguém estuda uma lição lenta, em notas graves. De muito longe, de outra esquina, vem também o som de um realejo. Conheço o velho que o toca, ele anda sempre pelo meu bairro; já fez o periquito tirar pra mim um papelucho em que me são garantidos 93 anos de vida, muita riqueza, poder e felicidade.

Ora, não preciso de tanto. Nem de tanta vida, nem de tanta coisa mais. Dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza; poder somente para mandar um pouco, pelo menos, em meu nariz; e da felicidade um salário mínimo: tristezas que possa agüentar, remorsos que não doam demais, renúncias que não façam de mim um velho amargo."


[...]

Abril, 1949

Rubem Braga

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Não são os únicos parágrafos do Rubem Braga com os quais me identifico, certamente. Achei apenas que esses chamam à atenção, não por serem bem escritos, mas por serem de tamanha simplicidade, de sinceridade incomum, aspectos que às vezes faltam a alguns grandes escritores.

Ou talvez eu esteja enganado.

2 comentários:

  1. É simples o suficiente pra se tornar ótimo. Poucos fazem isso.

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  2. sim sim prima da juliana,ela me mostrou seu blog e eu amei.bjoos

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